ATA DA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 30-11-1999.

 


Aos trinta dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezoito horas e vinte e oito minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Júlio Nicolau Barros de Curtis, nos termos do Projeto de Resolução nº 54/98 (Processo nº 3452/98), de autoria do Vereador Clovis Ilgenfritz, por solicitação do Vereador Guilherme Barbosa. Compuseram a MESA: o Vereador Paulo Brum, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; a Senhora Ana Maria Germani, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Clovis Ilgenfrtiz, representante do Senhor Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Ediolanda Liedke, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil - Departamento do Rio Grande do Sul; o Vereador Guilherme Barbosa, Secretário "ad hoc". Ainda, durante a Sessão, foram registradas, como extensão da Mesa, as presenças do Senhor Luís Custódio, representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; do Senhor Maturino Luz, representante do Conselho Estadual de Cultura; do Senhor Flávio de Almeida Reis, representante da Faculdade Ritter dos Reis. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Guilherme Barbosa, em nome das Bancadas do PT, PTB, PDT, PSDB, PMDB, PSB, PPS e PPB, discorreu sobre o significado do título hoje entregue, como o reconhecimento da comunidade porto-alegrense ao trabalho realizado pelo Senhor Júlio Nicolau Barros de Curtis em prol da Cidade, ressaltando a atividade do Homenageado como professor e organizador de movimentos ligados à área da arquitetura. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Clovis Ilgenfritz, que agradeceu a oportunidade de pronunciar-se em homenagem ao Senhor Júlio Nicolau Barros de Curtis, relatando momentos da atuação profissional do Homenageado e afirmando ter sido esta atuação marcada pela reflexão sobre a questão do patrimônio histórico e cultural e a defesa do patrimônio arquitetônico. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Guilherme Barbosa a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Júlio Nicolau Barros de Curtis e, em continuidade, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e vinte e dois minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Paulo Brum e secretariados pelo Vereador Guilherme Barbosa, Secretário "ad hoc". Do que eu, Guilherme Barbosa, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Júlio Nicolau Barros de Curtis.

Convidamos para compor a Mesa o Sr. Clovis Ilgenfritz da Silva, Vereador licenciado, no cargo de Secretário do Planejamento do Estado, representando, neste ato, o Sr. Governador do Estado; Sr. Júlio Nicolau Barros de Curtis, homenageado; Arquiteta Ana Maria Germani, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sra. Ediolanda Liedke, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil, Departamento do Estado do Rio Grande do Sul.

Convidamos a todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Guilherme Barbosa está com a palavra. Falará em nome das Bancadas do PT, PTB, PDT, PSDB, PMDB, PSB, PPS e PPB.

 

O SR. GUILHERME BARBOSA: (Saúda os componentes da Mesa e demais convidados.) É com satisfação que falo em nome da minha própria Bancada e, também, falo em nome de todas as Bancadas que me solicitaram.

Eu costumo dizer que sou um Engenheiro que tem uma relação muito forte com os Arquitetos. De fato, aqui estou eu cumprindo uma tarefa de ponte, porque esta homenagem é de iniciativa do Vereador e Secretário Clovis Ilgenfritz, que por não estar este ano na nossa Casa me pediu para que o Projeto de Lei voltasse a tramitar e que nós tivéssemos a oportunidade de votá-lo.

Eu o fiz com muita satisfação, tanto por ser iniciativa do Ver. Clovis Ilgenfritz, mas, depois, ao ler o currículo do Professor Júlio, vi a importância e a justeza desta homenagem.

Às vezes damos o Título de Cidadão Honorífico àqueles que, nascendo fora da nossa Cidade, cumprem uma tarefa em Porto Alegre que os faz merecedores desta homenagem e muitas vezes é no agradecimento, mais do que o Título que a pessoa recebe, também é um agradecimento que a Cidade faz a uma determinada pessoa, pelo trabalho que ela fez.

E muitas vezes, como o caso agora, o cidadão, Professor Júlio, que nasceu na sua Cidade, nesta Capital, ao elaborar um trabalho, a sua vida, neste caso, marcadamente ligada à sua profissão, termina chamando atenção para este trabalho e a Cidade, através de seus Vereadores, lhe propõem esta homenagem, neste caso de Cidadão Emérito, já que o Professor Júlio Nicolau Barros de Curtis é de Porto Alegre.

E lendo o currículo da Exposição de Motivos, elaborada pelo Clovis para homenagear o Professor Júlio Nicolau Barros de Curtis, nós verificamos, de sobra, a justeza desta homenagem. A sua vida ligada à arquitetura, mas não apenas ao trabalho burocrático do Professor que cumpre a sua tarefa, mas um Professor que foi além disso, que estabeleceu estrutura, propôs organizações, que foi além em outros setores da própria arquitetura.

Quero dizer, Professor Júlio Nicolau Barros de Curtis, em nome de nossa Bancada e de todas essas que me honraram pedindo para falar em seu nome, que a Cidade de Porto Alegre na verdade cumpre uma tarefa de gratidão com Vossa Senhoria e que a homenagem promovida pelo Ver. Clovis Ilgenfritz é mais do que justa.

Vou deixar que o próprio Vereador Clóvis Ilgenfritz se estenda no detalhamento da vida do Professor Júlio Nicolau Barros de Curtis.

Quero dizer isto, marcadamente pela história, que Porto Alegre, neste momento, através do Ver. Clovis Ilgenfritz, cumpre uma tarefa de gratidão pelo trabalho do senhor. Então, cumprimentos e muita felicidade. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Clovis Ilgenfritz, V. Exa. deve estar se perguntando por que outros Vereadores não se fazem presente neste momento. Mas, neste instante, nós fomos intimados, por assim dizer, a uma Sessão Extraordinária para terminarmos de votar o Orçamento para Porto Alegre no ano dois mil, portanto, por isso, faço esta justificativa de que outros Vereadores, com certeza, gostariam de estar aqui prestigiando este ato em homenagem a V. Exa.

Nós, neste momento, vamos conceder a palavra ao nosso Vereador e Secretário, ex-Presidente desta Casa, nosso querido amigo Clovis Ilgenfritz.

 

 O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Faz muito tempo que eu não uso esta tribuna, estava com saudades! Queria agradecer a especial deferência da Presidência da Câmara, neste momento, exercida pelo Ver. Paulo Brum, em dar a palavra a um Vereador que não é Vereador, no momento estou licenciado e isso, para mim, é uma homenagem. Eu agradeço à Direção da Casa, por intermédio do Ver. Paulo Brum e saúdo a sua Presidência que para nós é muito importante, aqui, neste momento. Também queria-me dirigir à representante do nosso Prefeito Municipal, companheiro Raul Pont, a Arquiteta Ana Maria Germani e à representante do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul, a Sra. Ediolanda Liedke. Seguramente, gostaria de citar o nome de todos que estão aqui, porque uma grande parte são familiares, conhecidos nossos. Mas quero homenagear a esposa do Prof. Curtis, Dona Maria Luiza Curtis e também o nosso Cidadão Emérito que está conosco na Mesa. Algumas pessoas da família: a Fátima, a Verônica, a Mônica, a Valéria, o Francisco Boeira, o Marcelo Lago, que entraram para a família, são genros. Os irmãos que vêm prestigiar esse momento; a Nora e também os irmãos: Sérgio, Geraldo, Rosário, José, Valdomiro, também não sei se esquecemos alguns, a Maria Paula, desculpe. É uma honra para nós - a gente fica um pouquinho nervoso. Acho que falar numa homenagem dessas a um professor que a gente gosta tanto e que nos deu tantos ensinamentos, tem duas partes: Uma que é o que nós pensamos do professor. E a outra é que eu acho que cabe, num momento solene de quem vai para a história da nossa Cidade com o título de Cidadão Emérito, alguns dados, mesmo que já estejam na memória ilustrada, de questões, de assuntos da vida do professor. Eu vou citar alguns momentos. E dizer que tivemos uma interpretação muito boa do Líder da nossa Bancada na Casa, meu grande amigo e Vereador por vários mandatos, Guilherme Barbosa. Na regulamentação que a gente tem na Casa os Vereadores têm um número limitado de possibilidades de homenagens. Como esta homenagem foi solicitada por nós em 98 e depois fomos para o Governo do Estado, este ano eu precisei pedir ao Vereador Líder, e ele, antes mesmo de passar para outro Vereador, assumiu a cota que era dele. Por isso, quero agradecer imensamente ao Vereador Guilherme Barbosa e à sua equipe, que foi incansável, assim como à equipe de Relações Públicas, que teve também um trabalho importante na convocação, no convite e na preparação desse momento, liderada pela Luísa que, quando eu fui Presidente era coordenadora do Setor de Relações Públicas. Uma bela descoberta!

O Professor Curtis, filho de Julito Andrade Curtis e Núbia Barros Curtis, nasceu lá pelos anos de 29. É arquiteto, diplomado na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1952. Casou-se com D. Maria. Luíza Lessa de Curtis, já citada, com quem teve seis filhos, alguns já citados: Júlio Nicolau Barros de Curtis Filho, Mônica de Curtis Boeira, Verônica de Curtis Lago, Rogério Lessa de Curtis, que faleceu e que nós homenageamos postumamente, Valério Lessa de Curtis e Fátima Lessa de Curtis. Tem quatro netas: a Rita, a Fernanda, a Mariana e a Daniela.

Eu vou fazer o resumo do resumo, porque nós temos, nos Anais, quase tudo já registrado.

O Prof. Curtis começou na Faculdade de Arquitetura como Professor Colaborador de Ensino, cargo em que se efetivou com brilhantismo em concurso de títulos e de provas no mesmo ano de 1958. Depois das promoções que o levaram aos cargos de Instrutor de Ensino Superior e Assistente de Ensino Superior, foi efetivado no cargo de Professor Titular de Arquitetura Brasileira, aposentando-se em 1991. Muitos estudantes não queriam que isso acontecesse, e nós, que passamos por lá, entendemos por quê. Os alunos queriam que ele ficasse lá por muito mais tempo.

Dentre as diversas atividades acadêmicas que exerceu destaca-se a de membro de bancas examinadoras para os concursos de Professor Titular e de Professor Adjunto, ambos na Universidade Federal da Bahia, nos anos de 1971 e 1974 respectivamente.

Promoveu a criação do Gabinete de Estudos e Documentação de Arquitetura Brasileira junto à Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1977.

Entre 1960 e 1976, organizou e ministrou treze cursos práticos de Arquitetura Brasileira por meio de visitas guiadas pelos núcleos de formação e desenvolvimento da arquitetura tradicional do País.

 Foi arquiteto do extinto Departamento Nacional de Estradas de Ferro, entre de 1953 e 1969. Trabalhou também - esse é um dado importante do depoimento que eu colhi, hoje, do professor, também Cidadão Emérito desta Cidade, Prof. Moacyr Moojen Marques, que está aqui conosco, assim como outros, o Prof. Riopardense de Macedo; também o Arquiteto Irineu Breitmann e o Prof. Demétrio Ribeiro. São os que lembro, agora -, ele trabalhou na reavaliação do Plano Diretor de Porto Alegre, que é uma questão pioneira e inovadora, pois antes não havia este tipo de preocupação que ele levou ao Plano Diretor com grande sabedoria e qualidade, a questão do patrimônio histórico e cultural, em especial, a defesa do patrimônio arquitetônico. E o Plano Diretor de Porto Alegre editado e aprovado em 79, Lei 4330/79, fez com que começasse a existir no Plano Diretor uma preocupação mais do que válida, importantíssima sobre essas questões. O Plano aprovado nesta Câmara, que amanhã será sancionado pelo Prefeito Municipal, teve, desde aquele momento, os ensinamentos do Prof. Curtis e da equipe que trabalhou com ele, o seguimento daquele processo, e a preocupação com o problema do patrimônio.

Não há uma obra em Porto Alegre, de importância, como de resto no Rio Grande do Sul e outros pontos do País, que não tenha tido a participação efetiva, pertinaz, apaixonada do Prof. Curtis.

A dedicação que deu a certas questões que são patrimônio da humanidade, patrimônio dos porto-alegrenses e gaúchos foi obra que teve participação efetiva do Prof. Curtis.

Participou de seminários internacionais, seminários de reavaliação do Plano Diretor.

O nome do nosso homenageado, Prof. Curtis, é verbete no Internacional Directory of Eighteenth Century Studies, publicado pela Voltaire Fundation Taylor Institution Oxford e no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, editado pela Architecture of the World, publicado pela Oxford Bookes University.

No decorrer de sua carreira recebeu várias homenagens, entre elas a “Medalha Rodrigo Mello Franco de Andrade”, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Publicou inúmeras obras, artigos, plaquetes, versando sobre a arquitetura tradicional brasileira, e que ora estão sendo organizados para consolidação em um livro, que já está quase pronto. Isso será motivo para nós nos reencontrarmos na sessão de autógrafos. Esse livro será mais um patrimônio para a nossa vida cultural.

O Professor Curtis sempre mostrou-se incansável na missão de professor. Além da excelência dos conteúdos da disciplina de Arquitetura Brasileira, sempre colocou-se disponível a viajar de ônibus, acompanhado por dezenas de estudantes, para os mais longínquos sítios do País. Quando perguntavam: onde está o Prof. Curtis? Diziam: ele está em Belém do Pará, ou qualquer outro lugar. As viagens que ele fazia, algumas históricas e que são motivo de lembranças para todos nós, estudando, vendo, visitando com uma paciência de quem ia cada ano repetindo visitas, e para os estudantes eram inesquecíveis.

Por outro lado, nos últimos cinqüenta anos, ele foi o maior responsável pela recuperação da Arquitetura e defesa do ambiente, colocando-se na linha de frente contra a destruição inerente ao sistema consumista e predador, que predomina na cultura capitalista em nosso País e no mundo.

Paralelo a todo esse currículo profissional, o que mais nos influiu para propor esta homenagem, que foi aceita e aprovada por unanimidade dos Vereadores, são as qualidades ético-humanísticas do Prof. Curtis. Ele sempre foi um homem de convicções firmes, decidido, progressista, na linha de frente de quem está mudando, transformando com dedicação, apaixonado pela Arquitetura, como um bem da humanidade, que busca o belo, valor maior da nossa vida. Foi sempre um homem de firmes convicções progressistas no exercício consciente de sua cidadania ilibada, altivez e dignidade.

Um grande engenheiro, uma vez me disse: “Eu gosto de vocês, arquitetos.”. Engenheiros sempre têm umas broncas com arquitetos, o Prof. Le Corbuzier, homem daquelas estruturas de tijolo. Por que Professor? Eu tive a honra de trabalhar com ele, fiz os meus primeiros projetos, fomos pioneiros em adotar aquela técnica, que depois também apareceu aqui na CEASA, eu fiz na COTRIJUI alguma coisa. Ele dizia que: quem busca o belo, está buscando a vida, a felicidade, a satisfação, o prazer; vocês, os arquitetos, sempre estão buscando o belo, o belo é uma paixão humana permanente que nos alimenta.

Eu fiz alguns esforços aqui na Câmara junto com os meus colegas de Bancada e outros Vereadores, até foi aprovado por unanimidade, o último projeto, no fim do ano passado, que busca o belo, que é a regulamentação do uso dos espaços visuais na Cidade. Às vezes, a Cidade atormenta as pessoas, elas não sabem bem o porquê, é porque as coisas são feias, malcolocadas, em lugares errados e com um tributo ao mau gosto. E nós sabemos que esta legislação, embora ainda esteja num processo de regulamentação, ela vai servir muito à Prefeitura para que ela possa exigir uma melhor utilização desses espaços públicos. Muitas vezes são danosos inclusive à questão de tráfego e outras coisas, mas o principal é dar uma condição de maior beleza, e a beleza é subjetiva, mas ela também aparece num inconsciente, dizia o nosso amigo comum, colega Louis Generè Le Courvoisier: “A mais bela paixão humana, me parece ser a busca da harmonia.” E isso é verdade. E essa busca da harmonia é a busca do belo.

Professor, de minha parte, tenho certeza de que estou fazendo uma coisa que não é só minha. Tenho absoluta convicção de que meu prazer multiplica-se por muitas vezes, por estarem presentes estes colegas estudantes, jovens arquitetos, o Diretor da Ritter dos Reis, que nos prestigia, o Prof. Flávio, professores, ilustres cidadãos eméritos. Estamos aqui com um grupo de pessoas que representa muito mais gente, que está gostando do que eu fiz. A minha arte foi homenagear o Senhor, assim como nós homenageamos, em doze anos, apenas quatro pessoas: o primeiro, foi Nelson Mandella; o segundo, o Prof. Demétrio Ribeiro; o terceiro, o Prof. Moacyr Moojen Marques, todos homenageados por unanimidade nesta Casa.

Para terminar, quero dizer que escrevi parte do discurso, porque fico emocionado e então começo a gaguejar. Bem, mas a verdade é que, eu tive a honra de ser procurado pelo Prof. Curtis, quando eu era Presidente do Sindicado dos Arquitetos,- tivemos uma vida bastante participativa no IAB, no Sindicato, no CREA, na Intersindical, na formação da CUT e na formação do PT- e ele disse ter um desafio para mim, que eu iria ajudar a formatar e monitorar como Professor de uma disciplina que estavam criando - Problemas da Arquitetura Brasileira Contemporânea -, que, depois que eu sai da faculdade, o meu colega José Albano continuou ministrando. Foi a melhor experiência da minha vida. Achei que não sabia fazer nada daquilo que ele me pedia, porque eu era um aluno de currículo escolar medíocre em termos de notas. Mas as melhores notas sempre foram na Arquitetura Brasileira e isso porque as aulas dele eram algo fantástico. Ele chegava na aula sempre como se fosse a primeira vez que falaria de um tema, que parecia ter descoberto ontem - e ele já tinha dado centenas de aulas sobre aquilo e sempre numa paixão, uma coisa que transmitia para nós. Depois de tudo o que ele nos ensinou, não posso recuar. Aí, comecei a fazer os quinze seminários nessa cadeira, quando a gente discutia o cenário onde a arquitetura se produzia e as condicionantes para a produção da arquitetura, como íamos vencer essas condicionantes. Não sou Vereador nem Secretário de Estado porque sou um político nato, sou porque era sindicalista e participei do IAB e participei como estudante. Aprendemos entre nós que se não fizéssemos, não ia acontecer. Assim como fizemos na Arquitetura essa busca por uma transformação, pela transformação da nossa profissão, percebemos que não adiantava fazer o melhor documento, o melhor congresso, chegar ao Presidente da República, ao Senado, à Câmara e dizer o que pensávamos, com críticas contundentes e não ter soluções, não ter propostas. E fui indo, conheci pessoas como Olívio Dutra, como Lula e outros, e comecei a entender que temos que assumir a postura do fazer e esse fazer tem que ser através da condição política. Por isso, fui-me engajando e hoje sou membro de um Partido que está lutando por um projeto alternativo para a nossa sociedade e tenho certeza que a grande maioria, senão todos os senhores, concordam que tem que ser melhorada e que não dá mais para continuarmos nesse processo de completo abandono das questões mais importantes da humanidade em função de questões que são apenas materiais e que são apenas concentradas em mãos de poucos. Esse mundo de segregação social, política, cultural, econômica, precisa ser mudado. Cada um tem uma visão, um método, mas todos, no meu entender, concordam que não pode haver desemprego, miséria, não pode haver gente passando fome, não pode haver criança morrendo porque não teve assistência médica, não pode haver gente que não teve condições de estudar, isso não pode acontecer e estamos trabalhando por isso. Tenho certeza de que a maioria das pessoas quer isso. Por isso, professor, o seu exemplo e o de muitos outros, dos quais temos a honra de dizer que fui aluno - e não era aluno de chegar e fazer as coisas direitinho, era aluno de brigar - foi muito bom para nós.

Para finalizar, desculpo-me pelo excesso, creio que eu estava com saudades de chegar aqui, e ao mesmo tempo é inesgotável o assunto com relação ao Prof. Curtis. Sinto-me muito orgulhoso, honrado de poder ter feito esse trabalho como Vereador da Cidade. E quero dizer que os meus filhos, que são arquitetos, não estão aqui porque um está na Austrália e o outro está lecionando lá na Ritter dos Reis neste horário, mas deles eu trago o abraço ao Professor, bem como de toda a nossa equipe do PT, da Bancada, e tenho certeza, como disse o Ver. Guilherme Barbosa, de todos os Vereadores da Casa. Muito obrigado. Felicidades!

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos, como extensão da Mesa, a presença do representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Sr. Luís Custódio; o representante do Conselho Estadual de Cultura, Sr. Maturino Luz; e o representante da Faculdade Ritter dos Reis, Sr. Flávio de Almeida Reis; demais parentes, alunos, amigos e convidados.

Convidamos, também, a Sra. Maria, que é a esposa do Sr. Júlio, para que juntamente com ele receba esta deferência da Câmara, conforme proposição do Vereador licenciado e Secretário Clovis Ilgenfritz.

Convido o Ver. Guilherme Barbosa, que representa não só a sua Bancada mas também as demais Bancadas com assento nesta Casa, para entregar o título de Cidadão Emérito ao Sr. Júlio Nicolau Barros de Curtis.

 

(É procedida a entrega do título.) (Palmas.)

 

Concedemos a palavra para o Sr. Júlio Nicolau Barros de Curtis.

 

O SR. JÚLIO NICOLAU BARROS DE CURTIS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais convidados.) Meu querido amigo e DD Secretário do Planejamento de nosso Estado, este título honorífico, que recebo como galardão maior do meu currículo, deixou-me muito sensibilizado. Sensibilizado? Não, muito mais do que isso! Deixou-me profundamente comovido a gratíssima surpresa que o destino me reservou para o terço final de minha vida: a glória de ser homenageado pela Casa que representa o povo da Cidade onde nasci. E, além da glória, a honra de esta homenagem ter-se originado no coração de um ex-aluno e dileto amigo, o Secretário Clovis.

Ancorado e induzido pelo pensamento bíblico que credita todas as ações do mundo à vaidade, eu reajo a esta manifestação de carinho confessando-me extremamente vaidoso ao receber o título que ora me outorgam. Ele vem ao encontro do que todos nós sempre almejamos: o reconhecimento por parte de nossos semelhantes de que não passamos pela vida em brancas nuvens.

Para mim, em particular, ele tem o sabor de restauro da minha dignidade profissional arranhada. Ao longo de mais de três décadas, exerci simultaneamente - senão com virtuosismo, pelo menos com paixão - dois cargos públicos, de cujas instituições não recebi nenhuma palavra de carinho no adeus de minhas aposentadorias. Sobrevivi, entretanto, com moral elevado, mercê do reconhecimento e da amizade que sempre me dispensou a grande maioria de meus ex-alunos, anualmente - no aniversário de sua formatura -, me distingue como seu perpétuo paraninfo.

Por isso que meus ex-alunos e esta Casa recompensaram sobejamente o reconhecimento que me foi regateado pelas instituições a que servi.

Recolho, agora, com inexcedível prazer, a oportunidade de enriquecer, sobremaneira, o patrimônio moral que projeto deixar a meus filhos.

E, como o título que ora recebo se originou na vontade de um amigo, firmo a convicção de que o reconhecimento é a memória do coração e que amigo também é coisa para dentro do peito se guardar.

Quero, agora, contagiar com a minha alegria - e agradecer, sensibilizado, - a todos quantos me honraram com suas presenças, particularmente ao Ver. Guilherme Barbosa que, endossando a proposta do Secretário Clovis Ilgenfritz, não mediu esforços para que este ato se realizasse.

Finalmente, quero exibir, aos quatro ventos, o “papel passado” cujo teor me credita ter assentado pelo menos um tijolo na construção do nosso mundo e, simultaneamente, me liberta para concluir a vida, convencido de ter saldado a dívida social que assumimos ao nascer e honrado a esperança que a sociedade deposita em cada uma de nós. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com certeza Professor Júlio, esta é uma das maiores riquezas que V. Senhoria levará para toda a eternidade, que é o carinho dos seus amigos.

Neste momento, ao finalizarmos esta Sessão Solene, convidamos todos para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h22min.)

 

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